quarta-feira, 8 de julho de 2015

O olhar... Um recomeço .


Quando o autismo se manifestou mesmo, quando as estereotipias se intensificaram, quando ele parou de falar as poucas palavras que conseguia, seu olhar se tornou vago, um olhar de quem não estava entendendo o mundo a sua volta... Não tinha brilho...

Eu tinha uma sensação de perda... Eu sentia que o estava perdendo...

Noites em claro estudando, pesquisando, chorando ... Tinha a desconfiança mas não a certeza do autismo e quando veio o diagnostico , uma força intensa tomou conta de mim, precisava agir rápido, mesmo sendo leve  o autismo dele , pois quanto mais o tempo passa ,mais enraizado alguns comportamentos podem se tornar e eu tinha que lutar contra isso.

Aquele olhar  sem brilho e vago me consumia... Ele compreendia muitas coisas, e outras tantas não. Se angustiava muito quando não era compreendido, chegando a desistir de pedir, de tentar se expressar...E eu me angustiava tanto quanto ele por muitas vezes não o entender. Tempos difíceis...

Ao longo do primeiro ano de fono, esse olhar foi se modificando... Ele conseguindo se expressar, compreendendo mais o mundo ao seu redor e um brilho lindo tomou conta desse olhar...

Quando ele era não verbal, toda quarta feira, ao sairmos do consultório da tia Aline, ele sempre parava antes de entrar no carro, olhava para mim e me olhava profundamente, como se dissesse : " obrigado, mãe."
Um olhar de gratidão.

Esse novo olhar  me diz que estamos no caminho certo, que me dá força ... O brilho que agora tem, diz que estamos evoluindo... Ele voltou, a sensação dele indo  embora , não existe mais, a minha angustia maior se foi. Hoje sinto ele mais presente ,  interagindo muito mais e feliz por conseguir se fazer entender.

 Agora ele é verbal, fala TUDO, mas tem  dificuldade para compreender algumas emoções , embora já entenda o que é estar chateado, feliz, triste e com medo, em entender as pistas faciais, pois quando falamos, ele dificilmente nos olha, é preciso SEMPRE estimular o contato visual e SEMPRE estar nomeando e explicando sentimentos.
O brincar junto com outras crianças  ainda é muito complicado, ele não se mantém interessado na brincadeira , ou por não entender ou por não saber como agir. Por conta da cegueira mental , do hiper foco e da dificuldade de brincar de faz de conta por ser muito concreto, sendo assim ele prefere brincar com um adulto.

Mas o olhar... Ahhhh , ele agora brilha! E contagia!