sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Categorizar, porque é tão importante?



Categorizar é um processo de dividir o mundo em grupos e entidades , onde os membros apresentam semelhanças entre si.
Os indivíduos com TEA apresentam dificuldade nessa capacidade , devido ao seu pensamento concreto, que dificulta a abstração que está diretamente relacionada com a capacidade de categorizar.

As crianças utilizam essa capacidade para organizar diversos aspectos de suas vidas, categorizando as pessoas como "boas /más", "amigas", "não-amigas," " menino - menina" e assim por diante. Portanto, a categorização é uma capacidade cognitiva com implicações emocionais e sociais.



Um dos aspectos fundamentais da vida social é a capacidade de perceber e categorizar, com um mínimo de esforço, as pessoas e os objetos com os quais se interage no ambiente cotidiano. Sem a categorização, seria necessário redefinir a todo e qualquer momento os esquemas de conhecimento sobre o mundo. 

Nas minhas pesquisas sobre categorizar, fiquei impressionada como esta capacidade é EXTREMAMENTE fundamental para TUDO. Precisamos perceber e classificar tudo... Quando classificamos separamos em grupos, percebemos as semelhanças e as diferenças e podemos saber mais ou menos o que esperar. Por exemplo se você vai em uma loja, você classificou VENDEDORES / CONSUMIDORES, você sabe o que esperar dos vendedores, que eles irão de oferecer produtos e não os outros consumidores que nem você . 

Na avaliação neuropsicológica do Alexandre sinalizou que ele apresenta dificuldade em categorizar. Uma dificuldade esperada. Ele atualmente fala bastante : " A vizinha é menina." " Ameixa, não é maçã" ... Parece que a necessidade dele de afirmar excluindo algo , que ele está dividindo mentalmente em categorias. Está se organizando.

Na fono ele está realizando atividades que estimulem a categorização. Visando que ele acione as áreas do cérebro que sejam necessárias e que estimule seu funcionamento. Acreditamos que realizando essas atividades agora, ele no futuro estará com essa capacidade adequada para ajudá-lo nas questões sociais que ele consequentemente,  também apresenta dificuldade, como em entender expressões faciais, entender como os outros se sentem...
Uma das atividades que ele realiza , consiste em categorizar os animais em: terrestres, aquáticos e que voam. Quando ele conseguir responder sem usar o apoio (cartolina e figuras) , começaremos a categorizar por outras características como : animais que vivem na floresta e que vivem em casa, animais com pelo e animais sem pelo... 
A Aline me orientou a começar a apontar as características das pessoas da família para ele ,  como a cor do cabelo, a cor dos olhos, altura... Estimular muito e sempre!   




Video da atividade que o Ale realiza na fono e em casa para exercitar a capacidade de categorizar! 


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Triste realidade

Não posso e não quero me calar... Hoje quero falar de PRECONCEITO e DISCRIMINAÇÃO.
Depois desse segundo turno de eleições, da vitória da candidata do governo a presidente, começou uma chuva violenta, preconceituosa nas redes sociais, culpando o povo nordestino, mineiro, carioca... Enfim, e com isso comentários extremamente preconceituosos...
Meu blog não é sobre política e nunca será e sobre isso apenas direi que EU ACHO injusto cobrar da população , vivemos em uma democracia e cada um vota em quem achar certo, se quem votou, votou porque recebe ajuda do governo, eles não estão errados e sim o governo em não proporcionar que essas pessoas tenham um trabalho remunerado digno para largar essa ajuda e caminharem por si só...

Voltando ao tema...


pre.con.cei.to 

sm (pre+conceito) 1 Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. 2 Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. 3 Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles se pratiquem. 4 Social Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos. P. de classe:atitudes discriminatórias incondicionadas contra pessoas de outra classe social. P. racial: manifestação hostil ou desprezo contra indivíduos ou povos de outras raças. P. religioso: intolerância manifesta contra indivíduos ou grupos que seguem outras religiões.



discriminar 

dis.cri.mi.nar 
(lat discriminarevtd 1 Discernir: Discriminar as causas de uma situação. 2Diferençar, distinguir: Já os olhos mal discriminavam os caracteres. 3Separar: Discriminar argumentos, razões. Discriminava bem umas das outras razões. 4 Classificar especificando; especificar. 5 Tratar de modo preferencial, geralmente com prejuízo para uma das partes.



A definição é clara... E qualquer que seja o preconceito e discriminação são abomináveis... Inaceitável ...


A maioria das pessoas tendem a repudiar o diferente, a excluir ao invés de conhecer e assim aceitar e respeitar...
A diferença é essencial , pensamentos divergentes , cores diferentes, religiões e até mesmo formas diferentes de funcionar, de ver o mundo e se expressar, é a diferença que colore o mundo...


Hoje meu pequeno tem 4 anos e não entende nada disso, não percebe... Mas eu percebo, eu sinto e vejo os olhares tortos, as pessoas se afastarem quando ele grita e pula sacudindo as mãos eufórico e muito feliz diante de algo que goste, ou quando faz os seus :" iiihhhhhhhh" .

As vezes respondo : " Não é contagioso, ele está só feliz! " , as vezes me calo , as vezes lanço um olhar fulminante... 
Tem pessoas conhecidas que desde o dia que contei sobre o diagnóstico NUNCA mais me perguntaram sobre o meu filho, não sei se é receio, medo, só sei que me tratam como se ele não existisse...Não sei com vocês , mas se eu encontro alguém que tem filho eu pergunto como está, as vezes o papo flui e as vezes fica no superficial mesmo, mas você sempre pergunta dos filhos, ou elogia os filhos, comenta sobre eles, algo assim. Não sei também se é porque eu falo normalmente do autismo, muitas vezes para explicar certas atitudes é preciso citar o transtorno pois algumas atitudes ,  reações são próprias do transtorno. 
Sinceramente não sei...   


Mas doe ver essa repudia nas redes sociais, me dói ainda mais hoje do que nunca, porque é nesse mundo que o Ale está crescendo.  Eu educo meus filhos para que sejam no futuro, pessoas que possam se expressar sem agredir o outro, críticos mas coerentes, que aprendam que a convivência precisa ser pacífica , que respeito é o mínimo a exigir , que ser diferente não é demérito, que devem respeitar as leis, cumprir com seus deveres e não faltar com suas obrigações. 

Temo porque muitos que hoje estão semeando a discriminação são ou serão os pais de crianças que aprenderão essa forma de pensar preconceituosa e discriminatória e esse ciclo precisa de um fim, precisa ser parado para termos uma sociedade mais humana!




sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Sempre ali...

A verdade é que sempre esteve ali…

Um jeitinho diferente de agir , de perceber, enxergar e experimentar o mundo ao seu redor…

Hoje revendo esses vídeos, o primeiro ele tinha meses, no segundo e terceiro ele já tinha um ano e meio 
 ou pouco mais que isso, vejo que o autismo estava lá … 

Me recordo de muitas conversas com o marido e minha mãe de me mostrar preocupada com certos comportamentos dele … Eles não concordavam, diziam que era apenas o jeitinho dele de ser, que não tinha nada demais…Mas algo dentro de mim dizia o contrário. 

Mesmo ele já apresentando certas estereotipias, só quando ele parou de tentar falar e quando um dia na  sala de aula eu o vi com outras crianças da mesma idade que me GRITOU a diferença e fui buscar ajuda médica…

E desde então, o aperto que eu sentia, a angustia de não saber , passou, o diagnóstico me tranquilizou, pois sei que uma criança diagnosticada precocemente, tem o tempo a seu favor e que MUITO se pode fazer para melhorar a qualidade de vida, suavizar os sintomas e buscar a total autonomia…














quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Oi? Mãe geladeira?

Quando me deparei com o autismo, fui estudar, me capacitar para atender , aprendi o ABA... Eu vinha de uma linha psicanalítica e vi na prática, como o ABA funciona, a sua metodologia coincide com a maneira concreta de pensar dos indivíduos com TEA.
Eu no começo me recusava a acreditar, mas FUNCIONA, o ABA tem como objetivo melhorar as capacidades individuais da criança,desenvolver adaptações da criança ao ambiente e melhorar seu desempenho.
Mas não quero falar sobre o ABA...

Quero falar do conceito da mãe geladeira, criado pelo psiquiatra Leo Kanner ,na década de 40 que atribuia a causa do autismo as mães.

 Afirmando que elas seriam frias, incapazes de estimular adequadamente, interagir e responder as demandas da criança e assim essas crianças se tornavam autistas, por culpa da indiferença dos pais, principalmente da mãe.

Quando evidências empíricas surgiram, não foram identificadas características específicas das mães de crianças autistas no que diz respeito à classe social, à inteligência ou à linguagem. Inclusive considerando-se certos aspectos, como interação com a criança, as mães de crianças autistas apresentaram comportamento em direção oposta àquela anteriormente suposta, pois mostraram-se mais ativas no contato com seus filhos do que outras mães, talvez como uma tentativa de compensar o retraimento social da criança.


Outro dado importante é que se essas "mães frias" são as responsáveis pelo autismo, como poderiam então ter filhos normatípicos ? Deveriam todos seus filhos terem o transtorno, partindo da premissa que o autismo teria causa psicossocial.


A teoria teve força nas décadas de 50 / 60, depois com os avanços científicos foi perdendo credibilidade

Ainda não se sabe a causa do autismo , estudos são realizados e o que se sabe é que é um transtorno neurológico e que a criança nasce autista e por volta de 1 a 2 anos os sintomas ficam mais perceptíveis, época essa que a maioria dos pais buscam ajuda, mas o transtorno sempre esteve lá, presente nos primeiros dias, meses de vida...

Muitos falam que algo acontece, que o meio influencia esse gatilho, algo que possa ter acontecido por volta dessa idade que "aflora" os sintomas.


Pesquisas apontam que os autistas não fazem a poda neural como o esperado, por volta de 1 ano de vida a 2. Ou seja, eles continuam a fazer um número elevado de sinapses (ligações neurais) e por isso são super estimulados , o meio se torna perturbador e eles não conseguem processar tantas informações.


Eu acredito nisso, faz todo sentido, eu percebo que o Ale em lugares com muitos estímulos visuais, auditivos fica perdido, é MTA coisa para ele processar , sem contar a hipersensibilidade que ele apresenta diante de barulhos, sabores, toque...


Agora, mãe geladeira não dá para acreditar! Diante dos avanços que temos hoje, das pesquisas, que tem gente que possam achar que o autismo é causado pela mãe, e por uma mãe FRIA.


Desculpem, mas não! Não



Estou mais pra mãe microondas que geladeira, viu?! kkkkk













       
 (fotos de arquivo pessoal… MUITO AMOROSO, desde sempre!)                              



terça-feira, 7 de outubro de 2014

Devolutiva...

Hoje irei compartilhar boas noticias...
A avaliação neuropsicológica do Alexandre chegou ao fim... Foram umas 4 sessões com ele, 2 para anamnese, visita a escola e ainda falta só conversar com a fono e voltar na escola para compartilhar os dados e planejar o ano que vem com as intervenções adequadas e necessárias para ajudá-lo lá.
Ele não apresenta rebaixamento de cognição, ou seja, uma característica de autista de alto funcionamento, ele está adequado, no esperado para a sua idade.
Os testes evidenciaram que a memória visual e a operacional  dele estão acima da média, essa memória operacional diz respeito ao armazenamento das informações num curto espaço de tempo com a possibilidade de manipular essas informações num plano mental.
Quanto a memória semantica teve dificuldade sutil para resgatar conceitos aprendidos através da aprendizagem formal ou informal (ex: O que as pessoas usam para escrever? Que cor é a grama?).
Acredito ser por conta dessa memória tão boa que ele já esta lendo, que não é preciso dizer 2 vezes, basta uma e ele já grava com facilidade.
Quanto a semantica, próprio de uma criança do espectro! Ele é visual, perguntas abstratas é extremamente complicadas. Se você mostrar a grama ele falará a sua cor, mas ter que resgatar essa idéia, é uma grande dificuldade para ele.
Outro dado interessante que apareceu na avaliação foi a dificuldade dele em coerência central, em integrar partes ao todo, montar quebras cabeças.  Esperado, pois é uma característica do espectro.
No dia a dia essa dificuldade pode aparecer em uma dificuldade em integrar pistas verbais e não verbais, em entender a intenção de uma pessoa, expressões faciais mais refinadas entre outros...
Já falei sobre isso em um post anterior sobre a cegueira mental e esperava que isso aparecesse na avaliação, pois notamos essa dificuldade nele diariamente.
O Alexandre apresentou flexibilidade mental, que é muito bom, mostrou boa capacidade de planejamento na resolução de tarefas e aceitação de seguir novos caminhos diante da dificuldade, podendo assim colaborar muito positivamente para o aprendizado futuro, ele também não se mostrou impulsivo ao resolver as atividades. Favorecem um bom prognóstico na sua evolução!

As dificuldades que ele apresentou são próprias do transtorno e tendo isso mais especificado podemos agora buscar as intervenções certas, ele precisará fazer ABA para ser ajudado nessas dificuldades.
Estou muito animada, eu apenas citei alguns pontos da avaliação que achei mais pertinentes e para não ficar muito extenso...
Valeu a espera, valeu tudo, agora temos uma clareza maior das suas dificuldades e que com o tempo, o ajudaremos a superá-las, uma a uma.

Sobre a observação dela na escola, o que eu gostei de saber é que ele participa de TUDO, entende e faz tudo que lhe é solicitado e que não é preciso ficar o chamando várias vezes, ele está atento e é participativo, que os amigos o chamam para fazer dupla, que ele fica observando
os amigos falando, prestando atenção na conversa... Achei isso demais! É claro que ele apresenta dificuldade social, ele não chama os amiguinhos para brincar, não consegue conversar, apenas responde com uma palavra e as vezes nem responde, mas saber que ele acompanha tranquilamente as atividades, que os amiguinhos o procuram , já valeu!

E assim, me sinto cada dia mais forte, mais capaz, mais disposta ... Tudo é possível até que se prove o contrário... Meu menino...Meu orgulho... Minha riqueza...