quarta-feira, 23 de março de 2016

Anjinho???????

Qual criança não é um anjinho?

As vezes sinto que muitas mães, para falar de seus filhos deficientes enaltecem esse lado meio místico, sempre se referindo como anjo azul quando é autista, ou como sendo abençoada e se intitulam "mães especiais".
Respeito.
Toda criança, para mim, é um anjinho e uma benção , colocar nesse patamar , meio que te proíbe de sofrer, de sentir medos, tristeza... Afinal você foi ESCOLHIDA, é ESPECIAL e TEM que suportar tudo e não pode fraquejar.

 Toda criança é especial e toda mãe é especial e ponto!

Não, não passei a gestação do Alexandre pedindo para nascer autista, não dei pulos de alegria quando ouvi o diagnóstico ... Desculpa.
Chorei, sofri, desconstruí uma fantasia de filho e deixei nascer outro filho, o real, o autista, com suas limitações e com suas qualidades. 

Colocar a deficiência como abençoada me soa como uma negação a ela, sabe?
Já que não posso lidar com essa frustração, com essa diferença, vou transformá-la em algo DIVINO assim posso lidar...Fica mais fácil. Será?

Como disse antes, respeito e até entendo, mas não acho meu filho autista mais que a minha filha normatípica, ambos são anjos (e muitas vezes não têm nada de anjo...) e me sinto abençoada por ser mãe dos dois.

Não tenho vergonha de dizer que muitas vezes fico cansada, que muitas vezes não quero ouvir falar de avião, de corrida de Nascar, que as vezes acordo assustada no meio da noite pensando no futuro do Alexandre, se ele conseguirá ser uma pessoa independente, se terá amigos , se arrumará um emprego... Que muitas vezes não sei como agir, que ainda choro. 

Ele não é mais que ninguém, não me sinto privilegiada por ser mãe de um autista, me sinto privilegiada por ser mãe do Alexandre e da Stella, meus filhos que amo.

Qual criança não é um anjinho?







sábado, 5 de março de 2016

RJ

O Alexandre parou de entrar no mar,  só de olhar ele se desorganizava , ficava nítido o seu incomodo diante da imensidão do mar. Na areia ele ficava , mas tinhamos que ter sempre água por perto para lavar as mãos, toda vez que as sujava de areia...
Antes ele adorava correr no mar, pular ondas e brincar na areia . Antes , eu quero me referir, quando ele tinha menos de dois anos, antes dos sinais ficarem mais nítidos do autismo dele...

Na nossa viagem ao Rio de Janeiro, pensei que seria : nada de mar e muita água para limpar as mãos...

Chegamos na praia, e ele foi até o mar com o pai e a irmã, querendo entrar, sentou na areia, brincou com a irmã, depois ia na ducha e rolava na areia e não pediu para limpar as mãos! Nenhuma vez , nem desorganizou, ele aproveitou!

E assim notamos o trabalho fantástico que a terapeuta ocupacional está realizando com ele, a nossa Beth ... Ele passou a apertar a descarga, a abrir garrafa de água, pote de bolacha ... Treinamos diariamente. Com a orientação da T.O. busco criar situações que proporcionem esses desafios, que estimulem sua autonomia e auto confiança , pois o Alexandre é uma criança muito receosa diante de qualquer situação nova, ele busca evitar o novo , pois não consegue acessar em sua mente estratégias para lidar ou adaptar uma para esse novo, ele só lida com o conhecido , por isso que a repetição o acalma, por isso que é preciso antecipar as coisas para ele.

Noto ele cada vez mais solto, buscando interação com as pessoas e as crises quase não acontecem, apenas pequenas desorganizadas que já sabemos lidar.
Ele ainda chora muito quando frustrado, quando percebe que fez algo que não queria fazer... Buscamos acalmar e explicar que tudo bem se sentir assim e que tudo bem errar. Logo dou um exemplo de como ele poderia fazer, para ajudá-lo seguido de muitos beijos e abraços. Ainda coloca, embora menos, as mãos nos ouvidos, em algumas situações ele ainda faz os "ihhhhhhh", normalmente quando esta muito feliz, excitado e anda nas pontas dos pés.

Mas sem a Beth me orientando, o estimulando e o ajudando a se regular sensorialmente, ele não estaria evoluindo tanto.

Fico impressionada em como ele vem buscando reagir ao meio de outra forma. 
Ele tem defensividade tátil e por conta disso, o toque, o contato com pessoas, texturas diferentes, como areia se tornam uma questão, podendo gerar incomodo ou até desorganizar... O que tenho reparado é a diminuição desses incomodos . 
Eu, todo dia faço massagens nele, pressionando com certa força todo o corpo dele( para propriocepção), o enrolo no edredom e o abraço com força, passo esponja, massinha, tecidos variados nos braços e pernas ... Estimulando a tolerância e o regulando sensorialmente. A caixa de arroz também ajuda na regulação e estimulação.

Nessa nossa viagem, mais uma vez ele nos surpreendeu e desejo que continue assim, evoluindo e nos surpreendendo !

 
em Copacabana