sexta-feira, 15 de abril de 2016

CANAL


Comecei a escovar os dentes dele quando ele tinha uns 2 anos ... Era impossível mexer na boca dele, aos poucos fui conseguindo e com 4 anos e meio ele teve cárie...
Foi um inferno o tratamento. Eram quatro , uma maior e as outras pequenas... Gritos,  chutes, mordidas, muita contenção, muita desorganização, muita falta de tato e de preparo por parte dos profissionais para lidar com uma criança e ainda autista ...

Dentes tratados, comecei então a garantir uma escovação no dia, a da noite, feita por mim ou pelo marido. Diminuímos as balas , e assim ficamos por um ano, sem nenhuma intercorrência,  até que sua bochecha inchou e ele começou a reclamar de dor...

GELEI !

Levamos nessa mesma clínica que tratamos e a dentista deu o veredicto: CANAL ! Completando que por já conhecer o Alê, que o melhor seria realizar o tratamento sedado se e que lá não tratam canal.

Fui procurar primeiro no google , depois pedi indicação no facebook.

Liguei para vários consultórios , explicando a urgência, que ele é autista e sendo muito enfática  na necessidade de sedação.  Alguns disseram não fazer , outros disseram que podiam indicar, outros o preço era muito alto. Achei também uma dentista recomendada em blogs, matérias sobre o autismo, mas ela não tinha disponibilidade para atendê-lo nesse mês.

Encontrei na internet uma clínica, vinculada `a um hospital na zona leste , marquei, uma amiga indicou o dentista do filho, marquei também, e outra amiga outra indicação e marquei também .

 Depois de muito choro e de ligar para vários consultórios, decidimos fazer uma avaliação nesse clínica ligada ao hospital na zona leste e comecei a desmarcar os marcados...
Um desmarquei com a secretaria e o outro o próprio dentista atendeu...

Ficamos quase uma hora no telefone...
Ele primeiro me acalmou, percebeu o meu desespero total, acredito que percebeu que as experiências pregressas foram desastrosas em dentista e foi explicando como ele atende, disse que se achasse necessário ele realizaria no hospital, de sua preferência e aí sim sedado, mas que essa seria a última alternativa... Desmarquei e depois de cinco minutos liguei remarcando para o dia seguinte!
Ele me passou TANTA confiança, tanta tranquilidade ... Como faz diferença conversar com o próprio profissional ... Tinha que ser ele, gostei de cara pelo telefone.

Chegando no consultório, o Dr. nem olhou para mim , nem para o marido, foi direto no Alê. Se apresentou, mostrou todo o consultório, deu água para ele, conversaram sobre carros, futebol ... E o Alê numa boa, relaxado.
Só podia um responsável na sala e o Alê escolheu o pai. Ele sentou SOZINHO na cadeira, abriu a boca e deixou o Dr. examinar.
FOI SENSACIONAL ! Fiquei encantada , maravilhada e calma pela primeira vez em um dentista!
Superou todas as minhas expectativas, o Dr. e o Alexandre!

Depois o Dr. pediu para ele esperar na recepção, que iria conversar com a gente e lá ele ficou, numa boa. Foi umas duas vezes espiar um pouquinho e voltava para a recepção.

O veredicto foi o mesmo: CANAL !
Ele vai tentar tratar em consultório, deu um preço fechado independente da quantidade de sessões necessárias para terminar, explicou o tratamento e disse que recorrerá ao plano B, sedação e tratamento no hospital caso achar necessário.

E ainda descobrimos dois dentes moles de tudo, prestes a cair !

Sábado é o dia ... Estou bem otimista e confiante.
Na torcida!!!!!









sexta-feira, 8 de abril de 2016

Interagir

" Filho, você brinca com o Alê? "
" Mãe, não conta pra mãe dele nem pra ele, mas é que o Alê gosta de brincar sozinho."


Ainda me comovo com a pureza das crianças ... A simplicidade da leitura que elas fazem...

Não tenho certeza se ele gosta ou se é mais confortável para o Alê brincar sozinho, sei que as crianças o chamam para as brincadeiras no parque da escola e sei também que ele vai por alguns segundos e se desinteressa muito rápido, não consegue permanecer na brincadeira e logo vai buscar fazer algo sozinho.

Sei também que nas atividades dentro de sala ele interage com a mediação dos professores, que participa das rodas de conversa, que conta do seu final de semana e se no final de semana tem corrida é esse o tema que vai para roda como algo significativo para ele.

Todo dia faço as mesmas perguntas sobre a escola para ele e para a Stella, o que comeram no lanche, o que teve que eles mais gostaram no dia, com quem eles brincaram... A Stella quando pergunto dos amigos sempre diz os nomes das amigas que brincou, o Alê diz os nomes dos professores, aí eu falo: " São seus professores!" E ele responde: " São amigos também , mamãe!"
Depois vou perguntando se brincou com fulana e fulano , conheço os nomes de alguns e tem dia que ele fala que não brincou com ninguém e tem dias que ele diz que brincou.

Agora posso dizer que ele está adaptado totalmente na Nova Escola ... Ele adora!
Não chorou nenhum dia, mas eu sabia que ele estava meio perdido, sem saber nomes, lugares e sei que lá ele encontrou apoio, segurança e aos poucos foi tomando o espaço pra si, se sentindo cada vez mais parte.

A interação social é uma GRANDE questão  para ele e para todos os autistas, sei que para ele é muito difícil de entender e de querer participar, afinal, para isso ele teria que levar em conta o interesse de alguns e não o dele, e isso o incomoda muito. Ele sabe que interagir com adultos é mais fácil. As crianças esperam que ele entre na brincadeira naturalmente, que a capacidade dele de brincar de faz de conta seja igual, que ele crie personagens e desenvolva na brincadeira sem precisar de mediação... E isso ele AINDA não consegue! Ele precisa de muita ajuda para entender e permanecer. Sem contar o QUERER, pois se não for algo de seu hiperfoco, ele raramente se interessa.

Acredito que ele no fundo, adoraria brincar com as crianças, mas ficar na sua zona de conforto e brincar sozinho, não causa sofrimento.

Já devo ter colocado em algum post que ele não parece se importar em brincar junto com os amigos, acredito que por ser algo difícil dele lidar ele se recusa a fazer ... Ele gosta de andar de patinete no parque e de brincar na areia. Muitas vezes a irmã o procura e brincam juntos e se não procurar tudo bem também, ele adora ficar lendo os gibis da mônica , cebolinha, cascão e magali ... Seu relato no fim do dia sempre é  muito positivo sobre a escola.

Com o tempo, com muita dedicação, com muita terapia e amadurecimento ,  torço para que ele consiga interagir mais com os amigos da escola!


com a professora !!!!!!




sexta-feira, 1 de abril de 2016

Careca !!!!!

Cortar o cabelo do Alexandre sempre foi bem difícil ... Levamos ele ,nesses 5 anos e meio, três vezes em cabeleireiros especializados em corte infantil, com cadeiras de carro, dvd para assistir, balas ... E em todas as vezes foi um CAOS. Ele chora muito, se desorganiza porque cai cabelo nele, porque o barulho da tesoura cortando o incomoda, perto da orelha então é o pior momento, não gosta que toquem na sua orelha ... Máquina nunca conseguiram usar.

Essas idas só serviram para eu aprender mais ou menos a cortar o cabelo dele. Sim , eu que sempre corto. Normalmente faço isso no banho e levo uns 2 dias para terminar o "corte".

Com o trabalho sensorial indo muito bem com a T.O, propus para ele na última vez que cortássemos na sala e ele topou. Sentou no banquinho, enrolado na toalha e deu certo. Ele se incomodou com os cabelos caindo , mas foi contornável.

Essa semana já estava me programando para um novo corte e mesmo sabendo que ele não suporta o barulho da máquina, sempre a ligo , mostro como funciona, ele vê o pai cortando o cabelo com ela e pergunto se posso usar nele.
Surpreendentemente essa semana a resposta foi SIM! " Quero passar a máquina e quero ficar careca, igual o papai! "

O que fizemos então, o colocamos sentado, enrolado em uma toalha de praia BEM grande, assim o cabelo não cairia nos braços, nem nas pernas, colocamos um protetor auditivo tipo fone de ouvido e o pai começou a cortar o cabelo! Antes ligamos a maquina sem o protetor e ele disse que tudo bem, que podia passar...

Deu super certo!

É claro que no final, ele já estava mais irritado, querendo sair e se ver careca, mas foi muito tranquilo comparado a todas as outras vezes que cortamos o cabelo.

E quando ele reclamava por ter cabelo na nuca, que eventualmente caia, eu jogava talco e tirava os cabelos!

Uma grande conquista !
Fomos persistentes, nunca desistimos de tentar, assim como com tudo, uma hora ele acaba aceitando e o ajudamos a lidar da melhor forma com a situação e com os incômodos.

Desistir JAMAIS!!!!





E modestia `a parte... Ficou lindo! ;)