sábado, 14 de março de 2015

Meu ouvido não é penico, não!

Nunca tinha levado o Alê em um psiquiatra. Escolhi no caderno do convênio, pensei que por ser uma clínica perto das clínicas da Unifesp , que poderia dar certo.
E fomos, eu e o carinha , conhecer o psiquiatra.
Adoramos, médico atualizado, me perguntou se o Ale estava passando ou se já havia ido ao geneticista, que era importante, conversamos sobre o autismo, sobre as estereotipias do Ale e claro, mesmo diagnóstico.
Como é preciso de um encaminhamento médico para conseguir atendimento psicológico e como nessa mesma clínica fazem o atendimento, resolvi marcar e conhecer um pouco do lugar e perguntar sobre as linhas de atendimento para o médico.
Ele me disse que o Alê, precisaria de um atendimento diferenciado, seria uma psicoestimulação, e que na clínica trabalhavam com a abordagem comportamental e também psicanalítica.

Conseguimos marcar consulta para uma triagem, pois a fila de espera para atendimento psicológico é muito grande.
Lá fomos nós outra vez... Comecei contando a história do Alê, que desconfiei por ter trabalhado com autismo, ela perguntou minha formação e continuei o relato. Ela me informou ser um processo de triagem e que o encaixe para as consultam deveriam demorar.
Eis que a psicóloga me pergunta, logo após ouvir o Ale se referindo a ele mesmo na terceira pessoa: " A quanto tempo ele se refere a ele mesmo na terceira pessoa? "
Eu respondi  que a pouco tempo, uns dois ou três meses, aproveitei para contar que ele começou a falar com três ano e dez meses e ela diz, que por ele se referir a ele na terceira pessoa, ele não está mais nessa posição autística, que agora está em outra posição psicótica, estaria com esquizofrenia infantil segundo a abordagem que ela segue, a psicanálise.

Oi??????
Que os psicanalistas enxergam o autismo como psicose (embora muitos não pensem mais assim acreditando que o autismo pertenceria a outro lugar, não ao campo das psicoses) , tudo certo aí.
Para a psicanálise ou se é neurótico, ou perverso ou psicótico... Agora me dizer que ele não tem mais autismo, que agora ele tem esquizofrenia????? É de me tirar do eixo...

O autismo apresenta entre uma de suas grandes características a dificuldade de interação social, a esquizofrênia apresenta dentre uma de suas características a perda do contato com a realidade, podendo apresentar alucinações, delírios entre outros.

Eu compartilho de uma outra visão, eu não entendo o autismo como um transtorno de fundo psicológico, diante de tudo que já se sabe,dos estudos e pesquisas relacionadas ao tema, compartilho da visão de uma causa genética, na formação embrionária, a pessoa nasce autista, ela não desenvolve o transtorno, ele apenas fica evidente ao longo dos primeiros anos de vida. Por essa razão não coloco o Alê em terapia com orientação psicanalítica , optei pelo ABA, por ser uma abordagem mais concreta, estruturada, eficaz e com uma proposta educativa, visando reforçar suas habilidades e ensinar outras necessárias para uma vida social saudável para o indivíduo.


Depois de ouvir que meu filho era esquizofrênico, pensei já ter ouvido tudo para aquele dia, mas  não, ela ainda me solta: " Ah, você acredita que ele nasceu autista e que não mudará o quadro? Qualquer autista pode sim deixar de ser autista. "


E a minha resposta foi, sim, ele será sempre autista, o que buscamos é ajudá-lo em  suas dificuldades, melhorar sua qualidade de vida , mas deixar de funcionar como ele funciona, não. O funcionamento é diferente!!! E pelo visto você é a única que já descobriu a cura!

A psicanálise ainda defende o autismo fruto de uma mãe geladeira, de uma mãe que não é suficientemente boa para criança, que trabalha fora, que não amamenta, não brinca ou estimula e assim, essa mãe seria a causa do autismo.
Mas o engraçado é que são justamente essas mães inadequadas e más que largam seus empregos, que estudam, criam ONGs, desenvolvem técnicas de aprendizagem para autista, que cobram e financiam pesquisas, que criam programas de estimulação precoce.

Não encaixa para mim, entendem? Eu faço parte dessas mães e desculpe psicanálise, esse conceito é passado! Se fosse tão determinante a mãe, todas as crianças abandonadas, todas as crianças de pais que trabalham fora e precisam deixar seus filhos aos cuidados de outros seriam autistas??? O meio pode influenciar, agravar até , mas não é determinante! Não é a causa!

Que tal buscar atualizar, as conquistas, as descobertas estão aí, estudos sobre o funcionamento dos autistas, livros, relatos de pessoas com o transtorno provando o quão afetivos são, bebês com características autistas sendo estimulados precocemente e tendo resultados fantásticos...
Vamos nos atualizar, não podemos fechar os olhos para tudo que está sendo veiculado sobre o assunto e ficarmos com conceitos ultrapassados como sendo o correto. Claro, buscando fontes confiáveis, pois muita bobagem também é veiculada sem fundamentos.

E acreditem, tudo isso em 20 minutos de triagem...Ele entrou autista e saiu esquizofrênico!UAU!

Enfim, imagino quantas mães levam seus filhos e recebem esse diagnóstico errôneo, a desinformação é um mal a ser combatido!
Não se sabe a causa, tudo leva a crer na genética , que mutações em determinados genes causam o transtorno, que interfere e modifica o funcionamento cerebral do indivíduo. Se não se sabe a causa, muito menos a cura, mas parece que para a " cara colega de profissão" a cura existe e é bem simples, basta começar a se referir na primeira pessoa do singular...
Compartilho essa minha experiência , para tentar servir de ALERTA! Temos que estudar, conhecer para pode termos crítica e discernimento diante de profissionais inexperientes e desinformados!

Um link abaixo muito interessante do site do Dr. Drauzio Varella:

http://drauziovarella.com.br/crianca-2/os-autistas-e-as-sinapses/

Outro link, esse é um relato de uma garota portadora de TEA, vale muito a pena!

https://www.youtube.com/watch?v=k0wFx6pHRQM

Esse é outro link, da sensacional Temple Grandin... Tenho a minha maior admiração por ela... Ela é simplesmente incrível !

https://www.youtube.com/watch?v=6J-_AOEOT0c















Nenhum comentário:

Postar um comentário